Finalmente lembraste-te de que me tinhas perguntado "falamos pessoalmente"!
Cheguei ao café combinado e tu falaste, falaste, falaste...
Blá blá blá para aqui, blá blá blá para ali...
Coiso e tal, bago de uva... blá blá blá...
Resumindo (e a rosa estão os meus pensamento-comentários à palestra dele):
"ah e tal, não me arrependo da decisão que tomei (estás a tentar convencer-te a ti ou a mim?!). Estou bem assim (ai sim?! Não pareces! Não páras quieto na cadeira). Não queria estragar a amizade (mas qual amizade?! Não falamos há quase 4 meses... nem bom natal me desejaste... qual amizade?)"...
"vou para fora do país... blá blá... novas oportunidades... blá blá... não me quero prender aqui.. blá blá... quero a adolescência que nunca tive... (onde é que eu não ouvi já isto antes?! Mas da última vez estava calor, era Verão e estávamos na praia....!)... Não é que não queira uma família, mas... (pois, pois, a seguir vais dizer que o problema não sou eu, és tu!)... o problema sou eu... quero liberdade... (oh, sim, desculpa, xipe! Não reparei que te estava a agarrar na perninha e que o meu super-hiper-mega-grande cabedal te impedia de fugir...)"...
blá blá beeeeeláaaaaaaa.... (a falar em câmara lenta!!!)
"... e achei que gostava de ti, mas... e não me arrependo do que disse, mas... "
blá blá blá...
"...compreendes?"
- (silêncio)
"estás a ouvir-me?..."
(de novo não respondi)
"... ouves-me?..." (pergunta ele a pensar que eu vou chorar - dream on, sucker! Querias era batatinhas com enguias, querias!!!)
Aceno finalmente que sim com a cabeça.
(Ele fica a pensar que estou em pleno estado catatónico, cega e muda de desgosto - TALVEZ, É POSSÍVEL!, mas isso nunca o saberás, não é - penso para com os meus botões, mas... UPS! Não tenho botões! Ah, que giro, nem coração! Que coincidência, não é?!)
Ficas com aquele ar meio apalermado (que por acaso nunca tiveste, isso é verdade - sempre pareceste culto, inteligente, seguro de si, um homem sério, um HOMEM com letras grandes, mas afinal... o que é um homem?)...
Olho fixamente para ti e respondo-te em pensamento (telepatia, lembras-te? No post anterior a este...?!)
"Os mortos não falam, Lipito! E foi isso que disseste a ti mesmo, não foi? Não foi disso que te tentaste convencer?!" - pauso por momentos neste meu monólogo-tentativa-de-diálogo telepático. Depois continuo "... e eu para ti estou morta, não estou? Como é que foi mesmo que eu acho que disseste?! Ah, pois! É verdade! «Relações para mim, nunca mais!!! Fechei a porta!» Mas a porta já estava fechada, não estava?! «Não, mas agora está encerrada!» LOL, digo eu. E não é o mesmo?!"
- Lota, mas não dizes nada?!
Olho-te fixamente nos olhos (nunca deixei de te olhar fixamente e penso para mim, dizendo-te em pensamento):
"Read my mind, Lipe: os mortos... não falam! E a morta aqui sou eu! Mataste-me para ti! Se eu falar e tu responderes, vão pensar que estás louco! E... nós não queremos isso, pois não, meu amor?! Ah, desculpa! Chamei-te "amor"? Mas que tão pouco original da minha parte! Se bem que duvido que o tenha chamado a algum dos meus ex-namorados (se o fiz, foi, com certeza!, por engano!)."...
- Pensei que era para falarmos e até agora não disseste nada. Limitas-te a olhar fixamente para mim com esses teus olhos bem abertos... Estou a fazer figura de parvo...
Continuo uma vez mais, sempre em pensamento...
"Ao menos não tenho a minha grande boca, cheia de dentes irregulares, aberta, pois não?! Sempre te fizeram impressão os meus dentes, não foi? Pois, não tive sorte de nascer com uns branquinhos, bonitinhos e direitinhos. Genética, baby! Mas estão limpinhos, limpinhos... mas não podes saber isso, pois não? Só provando... AH AH AH! Hoje estou deveras irónica! Só provando!!! Se me lesses o pensamento ainda pensarias que me estava a oferecer para me beijares... Nada disso! Sei lá eu já o que é um beijo!!! Também não me importo mais. Acredita, se quiseres! Quanto ao seres parvo... bem, não o foste quando te afastaste por, SUPOSTAMENTE, gostares de mim? Eu sempre achei que quando as pessoas gostavam uma da outra ficavam juntas. Afinal a primeira história que contraria essa tal de suposta teoria foi mesmo a minha... Tinha de me acontecer a mim..."
Levanto-me e preparo-me para sair da mesa deixando-te só no café, tendo um ataque de fúria. Os teus olhos atiram punhais que me acertam todos naquilo que já não possuo - o coração. Foste tu quem mo perdeu, lembras-te?! Dei-to a ti e perdeste-o, ou deste-o a outra pessoa pensando ser o teu suplente. Um coração suplente dá sempre jeito, não dá? Assim evita que partam e estraguem o verdadeiro, aquele que gostaríamos de ter sempre guardado, embrulhado ainda no papel de fábrica, limpinho e direitinho... como um sorriso Pepsodent! Mas o meu sorriso nunca foi assim... Genética, pois! Dizem que sim! E o meu coração já estava demasiado desfeito por ter, dentro dele, cozinhado muito amor, muita atenção, muitos mimos e muito carinho para quem amei. Mas tu não sabes disso. Alguma vez quiseste saber? Duvido! De certo nenhuma mulher diria a um homem que não era boa. Eu também não digo que sou má. Não sou. Se calhar fui boa demais para quem amei. Isso, sim!, é defeito.
Levanto-me em silêncio e repito as palavras que não consegues ler pois não estão escritas e tu, Lipe, não és telépata:
"Mortos não falam, Lipe. Tu mataste-me... no teu coração. Enquanto mulher, enquanto pessoa, até mesmo enquanto amiga... (Uma lágrima invisível corre-me pela face suave, terna e doce que já não tenho). Mortos não falam... Lipe... Não sabias? E tu voltaste a cometer o mesmo erro com as pessoas que te amam - não é por as tratares mal que elas vão deixar de te amar... sabias?! O amor verdadeiro nunca se apaga, apenas enfraquece e arde baixinho, em silêncio, dentro do coração (onde quer que ele esteja)... O meu...? És tu que o tens! Se te tivesses dado ao trabalho de espreitar lá para dentro já terias percebido que para ti sempre desejei (e continuarei a desejar!) tudo de bom. Porquê? Porque te amo... mas... os mortos simplesmente não andam por aí entre os vivos e ... simplesmente não falam..."
Volto costas e dirijo-me ao balcão para pagar. Encontro uma pessoa conhecida!
- Então, como é que estás, há muito tempo que não te via!!! - sou bombardeada.
- Muito bem, obrigada! Tu também estás muito bem...! - bombardeio de volta num tom de voz acelerado, enérgico e carinhoso.
Sinto os teus olhos, raivosos por eu não ter falado, cravados nas minhas costas como tições de ferro em brasa.
"Tu não irias compreender, Lipe. Não irias... Eu vejo o passado e vejo o futuro. Não o posso controlar... E tu sempre estiveste no meu futuro. Ainda estás. Com força! Como meu namorado, como meu marido, como pai dos meus filhos, como meu companheiro de vida. Sem divórcio! Até um dos dois falecer. E isso, meu amor... (faltam-me as forças, ainda que fale contigo apenas em pensamento e de costas para ti)... Isso... nem eu percebo"
Sais do café batendo com a porta. Dois minutos depois, não três minutos... (quero três minutos! É a conta que Deus fez, não é?!).
Três minutos depois saio eu do café... rumando em sentido contrário a ti, que vais bem longe, na avenida (pela primeira vez não trouxeste o teu carro até à porta de algum sítio...). Olho-te, de costas - sempre foste um homem bonito, não por fora, mas deixando antever o que está por dentro. Por fora também não és nada mau, mas essa é a beleza que se perde. É a outra que tens de conservar para seres feliz, sabias? Mas tu nem a ti próprio dás uma oportunidade...
Olhas-me também, quando eu não vejo e em simultâneo rompo em pranto, num pranto de lágrimas que sempre julguei já não conseguir chorar, sentindo dor dilacerante num coração que ofereci (que te ofereci!)... Choro e afasto-me, mas isso tu também não vês, da mesma forma que eu também não te vi olhar...
«Mortos não falam. E nós aniquilámo-nos... Já não seremos felizes separados um do outro, não é? Mas isso nenhum de nós sabia, pois é o Destino que fala agora em voz baixinha, de forma a que nenhum ouça...»
E foi esta a conversa fictícia que ouvi na minha cabeça e que teve lugar em sítio nenhum, numa hora inexistente entre duas pessoas que ... simplesmente já não se conhecem... duas pessoas que um dia trocaram olhares, pensamentos, ideias, uma vida em harmonia (coisa que eu julgara inexistente no Universo! - dois a pensar como um, a agir como um)... e agora são dois novamente, duas aliás.
Duas metades da mesma laranja - juntas, um fruto. Separadas - feridas ao ar, que irão apodrecer sem ser apreciadas... Afinal, quem come ou compra meias laranjas?!
(With all my love and grieve...
I.V.A.)
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