(O perfume envenenado do exibicionista - seria um melhor título)
Tal qual como na presença do assassino minucioso da obra “Perfume”, assim ontem entrámos no local de trabalho, momentos antes do telefonema (the call), e a Maria comenta.
- Cheira a perfume. Perfume de homem.
- Pois. Também me cheira. Deve ser “dele”.
- A sério?! – exclama Maria, incrédula.
- Pois. – confirmo, não dizendo mais nada. Para mim não é estranho.
(Pouco depois do telefonema e da presença do gravatinha na minha sala, Maria olha-me como que a querer falar. Eu adianto-me enquanto avançamos pelo corredor sem ninguém por perto.)
- Vês? Era dele!
- Pois é. Bem, mas pelo menos é um perfume bom.
- Pois eu sei. Ofereci-lho eu.
Maria olha-me de boca aberta e não faço ideia do que pensa. Só não sabe a parte do nosso suposto envolvimento. Não porque eu tenha problemas com isso, mas simplesmente porque não posso considerar uma relação aquilo que, de facto, não houve. Muito menos não sendo importante para mim.
Avanço atrás dela e recordo palavras de há mais de dois anos atrás.
“Quando te quiser chamar a atenção e meter-me contigo, uso o perfume que me ofereceste. É o meu perfume especial.”
Sinceramente, penso para mim mesma: que curioso como apago essas coisas e mesmo com o olfacto despertando-me memórias não há sentimentos envolvidos. Nem me recordo o nome do perfume, apenas a embalagem e vagamente. Até o odor me deixou de atrair. E tenho de admitir que há perfumes que “mexem” realmente comigo. Agora nada de nada. É assim quando tudo se vai e nada fica. Nem o rancor ou a raiva. É indiferente apenas. Só isso.
Ponto final.
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