Suspiro em silêncio. Por entre a febre, a pouca força. Entre as cobertas nestes dias temerosos de Verão, fazendo o contrário a todos os outros: procurando conforto no vale suave dos lençóis ainda que a temperatura lá fora implore por sedutores e tórridos banhos de gelo.
Quando a parte emocional é afectada, desmorana-se-me a saúde. É como se o coração enviasse ao cérebro a mensagem “não estou feliz” e o cérebro, em consonância ordenasse ao corpo solidariedade, dizendo “estou doente”!
Há uns tempos atrás, denotei alguns laivos de arrogância quando me foi dito que nunca tinha conhecido ninguém assim “olha, outro!”. Pensei. O irónico é quando é mesmo verdade.
Tenho um trabalho que me permite trabalhar com centenas de pessoas diferentes todos os anos, homens então, nem se fala – a todo o momento, há 15, 20 novas pessoas para conhecer e, em simultâneo, novos colegas para integrar na equipa, ajuda, esclarecer, etc. Toda esta actividade mexe com chefias, subchefias, entidades, associações, instituições, uma quase infindável lista de novos locais para trabalhar, fora os extras – contactos que temos de fazer por conta própria para “keep moving on”.
Isso faz-me conhecer todo o tipo de pessoas. Homens ainda mais! O meio pode ser muito dominado por mulheres, mas, quando aparecem homens, não são só dois ou três. Parece que é como tudo: uma mulher nunca vai sozinha à casa-de-banho; um homem nunca pende para um lado sem levar uma equipa consigo.
Se me interessam? É como tudo também: há-os para todos os gostos – para enfeitar o carro, a prateleira, como boneco de pelúcia para enfeitar a cama, para enfeitar a carteira, para nos enfeitar, mas, para sentar à mesa e conversar?! Eu até poderia dizer que se contam pelos dedos, no entanto, estaria a mentir – não tenho assim tão poucos dedos!!!
Também, desta vez apenas, tenho de confessar que não posso negar as listas de fãs. É verdade que se fartam de me atribuir fãs e eu bem esperneio, chateio-me, mando a pessoas passear (sem palavrões,já agora!) e isso realmente ofende-me. Faz-me sentir um cartaz enorme, vistoso, com luzes de néon a piscar e a exigir atenção, piscando em gigantescas letras brilhantes “Hey, LOOK AT ME! LOOK AT ME!” Mas eles existem. E muito!!!
Acho que passo tanto tempo a negar a existências desses fãs (alguns até bastante bota-de-elástico) que, com certeza, quem não me conhece me toma pela maior convencida de todos os tempos, mas a verdade é que mesmo sem eu fazer nada de nada, cerca de 80% dos homens que conheço (senão mais) acaba por experimentar mandar os seus grandes piropos e ser um bocadito insistentes. Lamento a falta de humildade, mas a verdade é que me irrita, contudo, se fosse a contar só pelo edifício central do meu local de trabalho, a verdade é que desde o seguranças às chefias poucos seriam os que não se põem todos sorridentes e dispostos a satisfazer os meus caprichos. Às vezes de tal forma que me dá vontade de dizer: agora saltem ao pé coxinho! Isto, só para ver se vivemos todos no mesmo mundo.
Mas eu nego e continuarei a negar. Se sempre me calharam namorados ciumentos, se o próximo “futuro”se apercebe disto, então foge logo, achando que a concorrência é demais. Portanto, I will deny it until the end of times! Ai, se vou!
Lamento também para quem está já a fazer algum filme com alguma loira curvilínea, alta e ultra jeitosona…ahahah. Nada a ver! Acho que o facto de andar sempre a sorrir é que faz tudo. E, aqui entre nós, muito sinceramente, não creio que sejam apenas os olhos o espelho da alma. No meu entender, o sorriso acaba por revelar muito mais e a sinceridade e a simpatia também.
E isso esconde também o meu interior.
Sou a maior defensora do amor, a grande fada madrinha dos corações despedaçados e, sinceramente, sou uma óptima “Cupida”. As coisas resultam sempre a 100%. Só não resultam comigo. Ah, pois! No meu caso, é totalmente o oposto e é diferente.
Na realidade a vida deu-me tantas super-hiper chapadas que cheguei a um ponto em que tenho um cristalzinho delicado no coração: se não gosto, nem dou trela; se me incomodo é porque detesto; se gosto… tento afastar; se percebo que é mais que isso, CARAMBA!, que fujo a sete pés! Lamento, mas afinal não sou corajosa assim.
Se tenho muito medo da rejeição? Mas é óbvio que sim! Mas não é o meu maior medo. Esse grande medo nem sequer é amar. É simplesmente deixar-me amar. E tenho motivos para isso. Muitos mesmo. Todavia, agora não quero andar a divagar sobre eles. Iriam gerar pena e esse é mesmo o tipo de sentimento que não cultivo.
E sou pessimista e faço merda nestes negócios do coração? Também! Mas também me deverá ser concedido o desejo de ser imatura 1% das vezes quando o resto do tempo nunca sou. Se fujo do que sinto: ah pois! Porquê? E por que haveria de ter de explicar?! Não quero e pronto! Ah e tal, mas se sentes… Pois sinto, mas eu pedi para sentir? Se calhar pedi, quando desejei ser feliz, mas sinto e não quero. Tenho medo! Portanto fujo. Por que fujo? Porque tenho medo. Sim, da rejeição, claro, sempre! Mas com o não estou eu muito habituada a lidar. Então e se fosse sim, fazia o quê? E a distância e o resto? Bater com as trombas no chão (sim, sou grosseira e extremamente dramática nestas coisas. De fazer ir às lágrimas (de tanto rir!) quando um que me assista!). Bater com as trombas no chão, de novo? Não posso! Nem tenho forças para tal. Já o fiz tantas vezes!
Aventuras? Lamento, nunca foi o meu estilo. Se já as tive? Pois, por acaso já. Não por vontade própria. Uma por impulso. A outra por engano. E são o que são “a ave (em) “n” turras” – uma ave à cabeçada! São o durante. Nunca o antes, nunca o depois.
São o vazio branco. O branco que também é cor, mas que, ao contrário das outras cores, não transmite nada. Que transmite somente o nada. Que permite sermos branco, mas nunca a cor das emoções, daquelas que fazem o sangue correr nas veias constantemente, mesmo quando não estamos ligados à corrente, mesmo em dias de chuva, mesmo em dias de forte ventania, mesmo em delírios de dormente epifania…!
É a cor que quero. Quero o não-branco! Quero o vermelho da paixão! O verde da esperança! O rosa da doçura! O amarelo da luxúria! O azul da calmaria! O castanho-Terra do coração! O laranja da fantasia, o cinzento da misteriosa sedução…!
Assim, não esperando nada, dei por mim a percorrer as páginas da surrealidade, com o cursor do computador piscando perante mim, em páginas bem reais:
O que mais é amar,
senão um olhar perdido na loucura,
embevecido de luta e de ternura
de querer sentir e contra isso lutar?
senão um olhar perdido na loucura,
embevecido de luta e de ternura
de querer sentir e contra isso lutar?
E isso estremece-me. Arrefece-me o corpo quente. Fico em pânico. Dormente!
Depois faço o inesperado. Repito. Faço merda. Numa avalanche de palavras, mostro-me e despeço-me. Mais rapidamente do que é possível assimilar. E fujo novamente. Se quem me conhece soubesse diria que tenho de viver. Se o “EU” que me conhece, soubesse, diria – compreendo-te! Queres mais. Estás cansada! Queres mais que caixas flutuantes sob água veloz. Queres falar tanta coisa. Sentes demais! Foi-se-te a voz!
Amizade? Essa doeu. Da última vez que o fiz, levei 9 anos a tentar assimilar essa amizade, a desenganar-me e a passar de paixão a um amor cada vez maior. E doeu. Muito. Doía de cada vez que em angústia pensava: um dia liga e diz que se vai casar. Nunca aconteceu. Nem mesmo hoje. Calhou! Entretanto, sete anos se passaram. Talvez oito ou nove. Já não sei. Na verdade, não interessa.
O que quero? Eu sei o que quero. Não tenho dúvidas. Sempre tive certezas daquilo que não queria. Mas se o posso ter? Parece-me que não, que não é para mim.
Dizem que não há histórias de dragões ou de cavaleiros encantados. Mas era o que eu agora queria. A irracionalidade da força física a derrotar as atrocidades da vida tais como as distâncias, a impossibilidade, as burocracias das leis escritas que se dizem divinas!
Por uma vez, queria que a pessoa certa fizesse a coisa errada, à semelhança de uma pessoa errada – que fez a coisa certa, que trepou os muros que construí e se deteve perante mim, fazendo-me acreditar, viajando milhas sem fim, por 50 minutos de conversa, troca de olhares e pouco mais.
Por uma única vez na vida queria o telemóvel a tocar, a partilhar um silêncio a três – duas pessoas e uma nova tecnologia – adivinhando-se-me do outro lado se estou a sorrir, nervosa ou de olhos fechados, esticada sob as cobertas a permitir-me sonhar por cinco minutos, tentando entender aquela clarividência que só (re)conheço em mim, observada por mim de fora, mas nunca tendo eu a centralidade dessas atenções – nem a desejando!
Por uma única vez, queria esse bichinho inquieto, de teclas e sons e mensagens, a dar o seu toque especial, de foto bem espetada no visor, sorrindo um sorriso do outro lado do meu mundo (que eu transportei para este mundo e não conheço neste mundo!), enquanto suaves e breves palavras, com as sílabas todas a seguirem-se, bem articuladas (e uns ouvidos bem despertos à escuta, não se chocando com as minhas provocações de repetir “gajo” e outras grosserias tais!), se soltariam pelos ares dizendo uma estupidez qualquer, sem certezas mas também sem ilusões, como: “Onde estás? Estou aqui de passagem. (segue-se um breve silêncio) mas sou capaz de demorar um bocado”.
No entretanto, as horas passam, os minutos sussuram – PESADOS -, os segundos perseguem-me – MALVADOS!, e as palavras enrolam-se! Os sentimentos impedem os sentidos, trocam-me os sonos, dão-me, na cama, as voltas contrárias. Se pudesse, escondia!
Não me escondia a mim. Escondia o que sinto, perante o desânimo de ter sido descoberta e ter sido eu a descobrir por último o que, afinal, tão óbvio se anunciava e só eu não observava.
Escondia e não sentia.
Assim fecho o coração, e sinto a mágoa da burrice. Culpabilizo em mim a falta de amizade. Mas há que ser óbvia: isso não consigo tornar em mim possível.
Tenho as malas para preparar – as das férias de tantos anos, as da doença que me atinge, e agora a pesada bagagem do coração. Penso nas malas por fazer e vejo em mim o ânimo de um burro perante a ausência de um belo fardo de palha.
Se a vida fosse facilitada como a fluidez dos dedos sobre o teclado, quando os sentidos me despertam o coração de cristal e impelem nele sentimentos a que me tenho recusado!!!
Tenho de me levantar da cadeira e fazer as malas. Pôr a vida para trás dos ombros. Se alguém houve a culpar. Só eu. Não acredito em contos de sapos e príncipes encantados. Colocar os cabelos para trás e deixá-los esvoaçar ao vento intemporal das burrices cometidas e erros repetidos.
Fugir.
Partir para o areal das mil fontes e espalhar no areal as lágrimas que teimaram em não querer correr. Deixar o sal curar as feridas da incerteza, preferindo-a à certa possibilidade de um nunca.
Folheio folhas fingidas. Fracas. Falsas. Fúteis. Mas também verdadeiras e encontro palavras que desejaria minhas:
Tenho dez linhas
Para te dizer que te amo
As mesmas dez linhas que separam um poeta de um actor
Um irmão de um irmão
Sei que muito antes de me leres
Vais saber que esta contagem decrescente
Te pertence
Agora já não tenho dez linhas
Só me resta uma
A linha da vida para te amar
(Carlos Peres Feio / António Feio)
Pois é, mas eu já não tenho dez linhas. Nem sequer uma palavra.
Vou, então, imaginar que já estou deitada de cabeça na almofada, no meu refúgio-carregador de energias. E aí, nesse porto de abrigo – esconderijo sagrado, vou ter contigo e, na forte impossibilidade de dizer algo mais, balbucio uma palavra muito sincera (a única que consigo dizer) “desculpa!”.
Não consigo dizer mais pois nada retira o que disse, o que fiz, ou afasta de mim o rubor das faces ao aperceber-me da minha descoberta. Muito menos tiraria as pantufinhas estúpidas que teimam em saltar dentro do estômago, angustiando-me e fazendo-me tremer.
Rio perante a certíssima impossibilidade de alguém fixar ou sequer entender estas palavras, que fluem à velocidade do meu próprio pensamento entristecido – MMUITO RÁPIDAS!
Penso apenas que, no MEU sonho, hoje o desfecho será diferente. E amanhã, ao acordar, tudo continuará igual: luminoso, brilhante, mas branco, vago e vazio – não pela aventuras, mas pela falta de sabor nas cores que me rodeiam, tão cheias de sem-rostos! E aí, nesse momento, vou sorrir porque vou desejar-te o máximo de felicidade: amar e ser amado na totalidade. Sem ilusões, sem dor, sem mágoas e, sobretudo, sem o sal das lágrimas. Aquele mesmo sal que vou encontrar nas próximas semanas e que desejo para mim. Para me sarar as feridas que auto-infligi. Sim. A mim mesma.
Quanto a ti? Será felicidade o meu desejo para ti: as pessoas especiais e que recuperam o brilho há muito perdido, após um lúgubre oceano de vetustas torturas, merecem esse “quê” de especial – não apenas serem amadas na totalidade de um corpo suado em êxtase, mas por toda uma vida, durante todas as vidas que lhe forem concedidas. De uma forma única, indubitável, extraordinária e plena de amor verdadeiro. Daquele que vem nos pacotes da farinha predilecta e no fundo das embalagens de cappuccino! Para sempre e… até ao fim!
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“O amor pode ser um lugar estranho” e “o coração pode ter razões que a razão não conhece”, mas eu ainda consigo ser mais complexa que tudo isto e, no entanto, tão simples ao mesmo tempo.
“E no final, tudo dá certo. Se não deu certo, ainda não terminou.” Às vezes é preciso um empurrãozinho.
Se as minhas emoções estão arrumadinhas em caixinhas? Sim, sem dúvida. O problema nunca foi esse!
Falo, falo, falo. Digo disparates, sou insegura quando não pareço, exijo sacrifícios e talentos extra-ordinários. Na verdade, basta a força de um abraço apertadinho e a doçura de um beijo para me devolverem aos meus sentidos, à minha confiança plena e a quem, na realidade, SOU.
…agora vou imaginar-me com a cabeça na minha almofada… porque sim… e o resto fica comigo. Porque quero.
Schiuuu! Não estou… e um bichinho de teclas que não beija com o seu toque a meio da noite não me acorda do meu dormente e profundo sono…
«Cry me out, Pixie Lott»
Cry me out... in my secret life... the future...!
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