Como tudo começou...

No início não foi o verbo, mas um olhar...

Um estalo lúgrube que percorreu os ares como se de uma faísca seca em palha se tratasse...

Iva Filipa, 2 de Janeiro de 2008

«Iniciei esta espécie de diário no dia em que achei que me mandaste um olhar especial…

Iniciei-o quando andava numa intensa batalha contra mim mesma... apaixonar-me por um colega de trabalho, coisa que eu disse que nunca haveria de acontecer… dou-me conta disso agora. Afinal a vida tem destas coisas estranhas…

Conheci-te quando estava finalmente a recuperar do meu acidente, quase seis meses depois.

Conheci-te num momento em que achei finalmente que tinha de dar uma nova oportunidade a mim mesma, sobre tudo: trabalho... e amor em especial.

Sim, pois foi nessa altura, cerca de um mês antes, em Fevereiro, que finalmente pude descansar em paz quanto ao assunto do meu ex pois a mãe dele ligou-me e falámos e fiquei muito feliz por ela acreditar em mim e não nas mentiras que ele tentou impingir a toda a gente.

Nesse momento de paz, finalmente!, e no primeiro dia em que resolvi deixar de tomar os medicamentos para as dores, que tanto me atordoavam e deixavam deprimida!!!, conheci-te!

Recordo-me perfeitamente do dia dessa reunião. Estava tão nervosa!! Tinha a minha fobia, agorafobia, no seu auge. E foi tão difícil sair de casa para ir para uma reunião de pessoas desconhecidas!!! Ainda mais quando já me tinham avisado sobre ti! Se bem que, para ser sincera, aquilo que me disseram sobre ti até me animou pois, admito, agradou-me o facto de seres rígido e muito cumpridor das regras…

Naquele primeiro contacto, consigo ainda lembrar-me perfeitamente do ar que me transmitiste: um perfeito pai de família. Acho que nem pus a questão de poderes não ser casado e pai de filhos. Simplesmente pensei: que sortuda a mulher dele!

Ainda assim, não pensei isto para mim com segundas intenções. Sei que o fiz de bom coração, admirando-o pelo ar que transmitia e nunca desejando estragar qualquer relação, tanto que nem sequer olhei para os dedos dele à procura de aliança! Deduzi isso e pronto: foi algo assim parecido com isto – um perfeito pai de família, que sortuda a esposa. Ponto final.

Agora quando vejo, por vezes, as coisas que escrevi… apercebo-me que poderiam ser muito mal entendidas por outra pessoa qualquer que as lesse. Sim, pois são desabafos da minha consciência directamente para o computador.

São, essencialmente, os meus gritos de desespero por sentir que cada vez mais aquilo que sentia crescia em proporções desmesuradas (e eu sempre a tentar evitar isso!); são mentiras que escrevia para mim própria, coisas menos boas, talvez, sobre ti, na tentativa inútil de ultrapassar isto que começava a sentir…

Faz para a semana um ano que, pela primeira vez, senti qualquer coisa “estranha” quando te vi… mas foi sobretudo no dia 2 de Julho, o tal dia da praia, em que me apercebi mesmo que o que sentia nunca poderia ser apenas atracção e, sobretudo, compreendi que esse sentimento não ia ficar por ali… recordo-me que estava muito ansiosa a ver se chegavas ou não à praia.

Meu Deus! Toda a gente se apercebeu como eu estava, menos eu! E tu deves também ter percebido isso muito bem!!! Só eu não percebi. E, quando chegaste, e me cumprimentaste, senti… parecia um choque eléctrico que me percorreu a espinha… (ups, espinha não, coluna! Damn, que estou sempre a dizer/escrever o mesmo!!!)… por esse motivo, poucos minutos depois, disse que ia dar uma volta pela praia e levantei-me rapidamente, antes que alguém se oferecesse para me acompanhar.

Alguém, não! O meu receio foi mesmo que tu te oferecesses para me acompanhar. E eu tinha a certeza que ias perceber o que eu sentia!!! E tive tanto medo!!!

E depois, durante todo este ano, tive altos e baixos… tive alturas em que quase me consegui afastar de ti de vez, mas parece que tu pressentias sempre isso e evitavas que acontecesse… e agora, aqui estou eu, sem saber ao certo o que fazer, muito feliz por dentro, mas com muito, muito, muito, muito medo do momento seguinte.

Sim, pois dia doze, este dia doze!!!, após uma reunião onde me disseste pelo meio: “se já pensavam que éramos namorados, agora devem ter a certeza, comigo a fazer o teu horário…”, e eu disse que achava que sim, tinham a certeza, e tu disseste “de tanto as pessoas pensarem e acreditarem as coisas tornam-se verdade…”.

Após essa reunião, em que eu fiquei perplexa de surpresa… mandas-me uma mensagem que me pôs K.O., por nunca pensar na possibilidade dela vir a existir…

“Pois… a almofada diz que sou ciumento… pois, na verdade tenho ciúmes… kd alguém se aproxima d ti.” – 21:33, 12 Junho 2007

Com todas estas coisas, acabo por ter neste momento quase 700 páginas escritas. E foram tantos os dias e tantas as coisas que não escrevi!!!

E, este diário, que começou por ser um mero desabafo para tentar evitar que crescesse o que eu sinto por ti, acaba por me revelar como mulher, como medricas no amor…, como profissional, como amiga… sendo, assim, parte muito importante da minha vida, tão importante que nem quero imaginar o que seria se caísse nas mãos erradas, mãos que não me entendessem e distorcessem o que, afinal, são aqueles desvarios loucos que por vezes nos passam pela cabeça e que não contamos a ninguém…»

Finais de Junho de 2007

por Iva Filipa