Hoje chove.
Chove muito até.
Chove como se fosse agora o começo do Outono.
Chove como se o tempo tivesse voltado atrás.
Mas não voltou.
É quase Verão, apesar da chuva.
Passaram quase tantos dias quantos os necessários para a formação e nascimento de uma criança.
Quase tantos quantos os que pareceriam suficientes para esquecer qualquer coisa.
Qualquer coisa de intermédio...
...
....
.....
Esta noite voltaste aos meus sonhos.
Falaste comigo e tentaste justificar-te como há muito não acontecia.
Quase como se a consciência te fizesse a alma encontrar-se com a minha no mundo onde tudo é permitido, o dos sonhos, procurando aliviar-te o peso que cai sobre ti.(Ou que não cai!).
Debruçaste-te sobre mim enquanto eu me fingia adormecida, com receio de te assustar e que te fosses embora.
Senti a tua presença no meu quarto enquanto lá fora a chuva batia desalmadamente na janela.
A tua presença plena.
E dela emanava carinho. Muito carinho. Como antes.
Debruçaste-te sobre mim, ternamente, enquanto eu fazia um esforço enorme para não abrir os olhos e cruzar com os meus olhos os teus e disseste:
"Ivita, tive de me afastar. Havia tanta coisa que eu ainda queria conhecer, tanta coisa e depois... Distraía-me contigo... Eu sei que... Eu... Mas não penses que em algum momento tem sido fácil... porque não tem, sabes? Não tem sido nada fácil, mas eu... "
Calaste-te e debruçaste-te sobre mim. Ainda mais.
Enquanto falavas tinhas acariciado a minha face e cabelo levemente, com receio de me acordar.
E eu nem sei se dormia ou não.
Não sei se queria acordar e nãp conseguia ou se apenas me fingia adormecida.
Saíste rapidamente daquele quarto-escritório após uma promessa silenciosa "quando eu voltar".
Abandonaste rapidamente o local onde me encontrava e que não reconheci, mas antes...
Deste-me um rápido beijo nos lábios.
Um beijo que foi apenas um roçar de lábios.
Um beijo desesperado.
Um beijo sensato.
Um beijo justo.
Um beijo que pedia mais, mas que durou menos.
Um beijo quente.
O nosso primeiro beijo.
1 comentário:
Ilusões... demasiado tempo agarrados a elas torna-nos inseguros, tristes, dramáticos... confiar, acreditar, esperar tornam-se verbos sem significado, mas invadem o nosso presente e o nosso futuro. Procuramos a todo o custo soltar as amarras que nos prendem a um amor, a uma paixão, a qqr coisa que se sente e que , injustificadamente, somos obrigados a colocar de lado por erros, por decisões, por juízos imperceptíveis da outra parte... Não se justifica, não se compreende... mas o que é facto, é que uma só acção desencandeia tantas outras... e o diz que não, acenando com a cabeça que sim deixa-nos acreditando que as acções falam sempre mais alto que as palavras... ilusões...e o tempo passa, umas vezes rápido, outras vezes depressa... mas cá dentro é tudo igual... parece setembro... as primeiras chuvas... para nós, é a alma que chora... mas não as primeiras lágrimas... É Maio... se não devia haver chuva, tb não deveriam haver lágrimas... demasiado tempo passou, demasiados sonhos sonhados... mas a passagem inexorável do tempo...cá dentro... não se sente... quando se ama e se sofre... tudo permanece inalterável por muitas horas, muitos dias, muitos meses e perguntamos... até quando... e a resposta não chega... tarda... demais...até quando?!
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