Iva's place

Aqui, fala-se de amor...esse sentimento louco que mexe cá dentro e nos faz vibrar de emoção.

Seja curto ou duradouro, dele todos queremos um pouco ou não pule cá dentro o coração!

Bem-vindos!

Iva*

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Jangada do Adeus



Um antigo adeus

Para este poema, esta canção «Con te partiro»



Adeus 

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Eugénio de Andrade



Um outro adeus

Para este poema, esta canção «Mais um dia»



Soneto da separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinícius de Moraes

Este adeus

Para este poema, esta canção (como tributo e homenagem esta versão, ao amigo Miro ;)..ehehe) «Adeus tristeza»



Cada um Cumpre o Destino que lhe Cumpre  

Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,
E deseja o destino que deseja;
Nem cumpre o que deseja,
Nem deseja o que cumpre.
Como as pedras na orla dos canteiros
O Fado nos dispõe, e ali ficamos;
Que a Sorte nos fez postos
Onde houvemos de sê-lo.
Não tenhamos melhor conhecimento
Do que nos coube que de que nos coube.
Cumpramos o que somos.
Nada mais nos é dado.

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa



Para quem são as despedidas? Isso agora...! Compete-me a mim saber e, a quem se atrever, perguntar!!!  ;)

Ciao, belli!

Iva*

2 comentários:

acbelix disse...

Muito obrigado!
Como sabes, dei mais um passo em frente. Que sendo apenas um passo pequenino, tem a importancia tão grande de de facto poder dizer, ou começar a dizer adeus tristeza, e pensar em frente e recomeçar a sonhar os sonhos que me perseguem de muitos anos atrás.
Só posso dizer a quem passa por sofrimentos atrozes como eu "passei", que a fé faz com que um dia a roda vire, e começando a girar no sentido oposto, começamos a receber o que andamos a semear durante uma vida.

Auguri per tutti, et a té, auguri in doppio.

Bacci

Miro

Iva disse...

Adiantará dizer: eu bem te disse?! Ou estarei a ser um pouco cruel...?

Uma beijoka e sempre em frente é que é caminho! Nunca te esqueça disso!!!