Esta carta é um desabafo e um adeus.
É de muita felicidade resolver finalmente os assuntos pendentes do passado, por anos e anos. Mas também é de muita tristeza a machadada final ser exactamente a que esperávamos, como sempre adivinháramos que iria ser, mas quando não esperávamos, com os maus da fita a darem-se bem, sem punições e os bons perdidos pelo caminho, solitários na inactividade da sua atitude. E os intermédios por ali, num vaivém inconstante e imperceptível, incompreensível e, não obstante…bem!
Assim me escrevo e assim me despeço.
Agora.
Não sei se voltarei.
Muitas forças a todos os que ajudei durante mais de dois anos, ainda mais forças a quem não tive disponibilidade para responder… (ainda o tentarei fazer, apenas não estarei aqui activa no blog!).
Quem me ficou no coração, mantém-se agora na minha vida. Quem não está lá, nunca teve a menor importância. É muito menos que insignificante. E isto é válido para todos!
Os laços desatam-se, mas eis que surge, não uma punhalada, mas, pior que isso, uma autêntica machadada para nos despedaçar o pedacinho de coração que ainda está intacto, acabadinho de refazer, chupando-nos o único pedaço de sanidade mental que nos restava… Os pormenores não interessam.
Apenas foi o suficiente para me aperceber que, de repente, as feridas se abriram. Afinal estavam cá! Ou isso ou as cicatrizes também doem.
Apercebi-me que neste momento estou melhor isolada no meu egoísmo, um sentimento novo do qual irei ser mestra!, do que na ilusão de… Bem, na ilusão! Qualquer que seja, boa coisa a ilusão não pode ser.
Sendo de um egoísmo tal, não me parece que neste momento exista alguém capaz de me ajudar a sarar as feridas, abdicando de 5 minutos de si, por mim. Dando-me um bocado da sua vida, só porque si. Investimento a fundo perdido, quase… E, como se há coisa que não existe são príncipes encantados e contos de fadas…, o melhor é resumir-me à minha considerada insignificância sentimental e ficar no meu cantinho, longe de tudo, longe de todos. Morta para o mundo.
Não há, nem haverá, quem me acorde às 3 da matina, para me dar um abraço e dizer que vai ficar tudo bem. Não há cinco minutos para dizer uma patetice qualquer e o mundo parecer de novo fazer sentido. Apenas há coisas do passado que, a resolver-se, nos dão uma chicotada com a força e o impacte de um coice gigantesco, pior que uma onda de três metros, embatendo directa em nós, enrolando-nos na areia, num misto de sal, saliva, pedras, água, sangue e areia… perdendo nós o fôlego e o lugar certo dos ossos, num abraço quase fatal de dor, remorso e de flashes de vida.
Não há sempre finais felizes. Há finais. Há ciclos de vida. E, de facto, life is a bitter sweet symphony…!
Há pessoas que sabem o que querem, fazem loucuras, lutando por isso e se dão bem. Há outros que não arriscam. E não se dão mal. Normalmente, “não se dão”. Mas isso agora não interessa. Nada interessa. Nem o silêncio interessa pois ele é pesado.
Não quero, não posso, não consigo falar disso. Não consigo falar de como me magoaram, de como arquitectaram para me magoar mais só porque não me tinham nem iriam ter… não quero falar de confirmar dúvidas do passado enterrado e ele, por entre as camadas de terra e de tecidos putrefactos e insípidos, me agarrar pela perninha e me puxar para o fundo, enchendo-me as cavidades de terra, de tal forma que não consigo mais respirar e só vou para o fundo, cada vez mais para o fundo. Farta. Cansada. Cansada de muito lutar.
Funeral não houve. Nos assassinatos de se ser comido para a terra por um passado mal cheiroso deve ser sempre assim, digo eu. Nem houve muitos gritos. Houve o silêncio, o telemóvel amigo que não tocou, o toque quente e silencioso, amigo, que nunca chegou. Que nunca chegou quando não seriam necessárias palavras para sarar um coração ferido.
Deixem-me estar. Não quero palavras. Também não quero o silêncio. Não quero nada pois agora sei que nada me pertence. Nem a perda me pertence. E o coração que era meu, esvaiu-se, líquido, na insuficiência de formar plaquetas que o segurassem.
Não quero nada. Não peço nada. Não desejo nada. Quero o esquecimento, o nada. Isso acho que posso ter.
É um adeus. Vou lamber as feridas e talvez não gerem gangrena, se não é ou foi isto já gangrena!, e vou ficar sozinha, aqui, no meu cantinho. Certa de quem amei, certa de quem ama. Completamente com a certeza que ainda mais vou perder, mas tendo plena consciência (se puder esta ser minha!), de que agora preciso de algo que não era meu, mas agora rebusco nalgum canto do meu pacote de brindes de há umas décadas atrás: o meu próprio egoísmo.
Escrevo-me e morro-me. Morri para o mundo. Agora. Aqui. Sem sequer mais uma palavra. Neste ponto final.
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