Iva's place

Aqui, fala-se de amor...esse sentimento louco que mexe cá dentro e nos faz vibrar de emoção.

Seja curto ou duradouro, dele todos queremos um pouco ou não pule cá dentro o coração!

Bem-vindos!

Iva*

domingo, 2 de maio de 2010

Fantasmas

(esperando que a mensagem chegue a quem deve...)




Como é que podemos censurar alguém que nos magoa por não se ter ainda libertado dos seus fantasmas quando demorámos tanto tempo a livrarmo-nos dos nossos?

Como podemos odiar alguém que nos queimou a pele e esfrangalhou o coração em pedaços quando, no fundo, sabemos que as causas são outras?

O meu coração pode sangrar muito após queimado com ferro em brasa, ficando a pele em carne viva, pútrida; o meu peito pode sufocar-me por falta de ar, a minha cabeça pode doer e fazer-me sentir tonta de tal forma que só quero acabar com esta dor; posso ter em meu estômago um grande vazio, como se acabada de levar um murro após uma farta refeição, as minhas pernas podem não me obedecer, dormentes e incrédulas por serem incapazes de suportar o resto do corpo, mas… como se pode condenar o outro quando já estivemos nessa mesma posição, incapazes de nos libertarmos de alguém que nos deu um falso amor e só nos puxava para trás, impedindo-nos de nos libertar, impelindo-nos para acabar com a própria vida?

Demorei muito tempo a livrar-me dos meus fantasmas, mas de um em especial. Um que me fazia sentir que era ele o homem da minha vida, pela forma como se aproximou de mim. Um que me fez pensar que se não fosse fazer vida com ele, mais nenhum me conseguiria ver como realmente sou. Um que parecia pensar como eu, gostar das mesmas coisas que eu…

 Um que, pensei eu, me ensinou a amar e a ser amada, quando, de facto, fui eu que aprendi sozinha o que era amar incondicionalmente pois da outra parte só recebia ilusão e manipulação, pensando por várias vezes acabar com a minha vida, enterrando-me num mar raso de lama em que cada gesto pela libertação me levava cada vez mais para o fundo do abismo, ainda que por breves minutos parecesse encontrar terra seca e um galho a que me agarrar para de lá sair.

Mas sentia-me uma traidora por estar a abandonar daquela forma alguém a quem jurara amar, a pessoa que julguei que me ensinara a amar. Um alguém que parecia ser muitas coisas e estava sempre dentro da minha cabeça, o tempo todo… um que, na verdade, era apenas uma alma rasa e solitária que não queria estar mais só e apenas me queria para se exibir aos outros, parecer normal e esconder a sua extraordinária incapacidade de amar. Não são assim tão raras essas almas, sabiam? Mas sortudos os que não as encontram! Sugam-nos a vida, a alegria, os sorrisos, o bom humor, os amigos, a família, os dias de sol, os momentos de plena comunhão com a natureza. E julgamo-nos tão bem, apesar do mal que nos fazem, que qualquer tentativa de libertação, nos faz atirar tudo para o ar e voltar de novo ao chão. Por vontade própria. São de tal forma esmagadoras que, mesmo longe, nos fazem sentir mal quando conseguimos ser um pouco felizes. E, quando percebem que a vítima se afastou um bocadinho, voltam a investir e a fazer-nos voltar à lama, à dor, à solidão, ao sofrimento, mendigando por um bocadinho de atenção e carinho que, vendo bem, até são capazes de dar, afinal, quanto valerá ter alguém que é capaz de amor incondicional ali ao lado, quando até nem têm muito que se esforçar?

Libertar-se dói tanto!!! Dói muito mesmo! Sentimo-nos bem e atraímos de novo essa pessoa. Pensamos que afinal era só uma fase má, que será ela capaz de nos dar todo o amor de que necessitamos… depois põem-nos mal, sentimo-nos defeituosos e a pessoa volta a afastar-se. Afinal, a culpa é nossa. E entretanto, a vida passa lá fora e o tempo e as oportunidades que passam, nunca mais voltam. NUNCA, NUNCA… NUNCA MAIS.

E se, por mero acaso, numa tarde soalheira de Verão, deixámos escapar alguém que até parecia ser a pessoa certa… por medo de que a outra voltasse e depois já não tivéssemos tempo para ela… então foi tudo ilusão. Perdemos a verdadeira, idolatrámos a falsa, simplesmente porque a encontrámos primeiro e porque julgámos que ela nos encontrou…

Eu tive um sonho. Tinha 14 anos ou talvez menos.
Estava numa espécie de palácio aberto, uma espécie de corredor aberto, com muitos arcos de onde se via o mar ao longe e o rio que banhava as paredes desde castelo-apalaçado. Eu estava na ponta do corredor. A meio caminho estava alguém que olhava insistentemente pela janela contrária ao mar (se é que se pode chamar janela, visto tratar-se de um espaço aberto). Mais longe e na ponta desse corredor, estava outro homem que avançava para mim, a passos largos, sorridente. Olhei de relance para o homem que estava mais perto, mas ele não me olhou. O outro, pelo contrário, sorria e avançava para mim rapidamente…
Passaram muitos anos, mas finalmente descobri quem eram esses dois homens e descobri também o local, onde nunca havia estado, mas que reconheci no primeiro vislumbre que dele tive – Vila Nova de Mil Fontes. Os homens: o que estava parado e não me olhava, o Lacoste, o que avançava para mim a passos largos: o Gravatinha.


Esta noite tive outro sonho. Estava numa casa. Uma grande casa, com um longo corredor. Um apartamento. Tinha uma varanda. A certa altura saí do quarto e queria fechar a varanda. Era inclinada. De repente muito inclinada. Lembro-me perfeitamente de olhar para o céu e ver uma montanha de nuvens escuras a formar-se. Tinha de fechar o estoro e depois a janela. Tentei, mas o vento foi demasiado forte e vi mesmo que ia cair. Era alto. Não tinha hipótese. Pedi a Deus (estranha a forma como cada vez me torno mais religiosa!) e, não sei como, não caí. Consegui esticar as mãos e alcançar a outra extremidade da varanda, a que saía do quarto e consegui segurar-me. Fiquei ali encolhida e com medo. Sei que do outro lado alguém me via e não avisou ninguém porque sabia que a queda e a morte eram certas e nada havia a fazer. Consigo descrever todo o apartamento. Algumas partes em tons de pêssego, outras salmão, alguns prédios mas não muitos. Nunca lá estive nem conheço local semelhante.
Depois decidi de novo que tinha de fechar a varanda. Era perigosa, vinha aí uma grande tempestade e isso iria afectar a pessoa que esperava, ainda que pouco antes quase tivesse significado a minha morte. O vento era muito forte e a tempestade aproximava-se veloz. Teimei que iria conseguir fechar a janela, apesar do estoro da janela estar danificado e a varanda ainda mais inclinada que anteriormente. Resolvi espreitar de novo a varanda e apercebi-me que afinal não era assim tão alta. De facto, a queda já não me poderia fazer mal.
A minha camisa de noite voava, formando uma mancha branca e deixando-me as pernas a descoberto como anteriormente, sem nenhum misto erótico nem nada semelhante, apenas indicavam a força e a violência do vento. Consegui vencer a força do vento, fechar essa janela para o abismo. A casa voltou a ficar normal. Percebi o local onde estava. Era um grande apartamento por cima de um Banco. Recordo-me do nome do banco, mas logo esqueci. Banco Nacional, algo assim. Estranho.
A casa estava em segurança e havia uma segunda casa ali perto, da pessoa que eu esperava, com muitos vidros e muita luz. Disseram-lhe que não construísse ali, mas construiu. Era de fácil localização e nunca ninguém se perderia ao tentar encontrá-la. Acordei gravando na memória a pessoa que chegou. Não um rosto antigo, mas um novo, recente. Acordei e na realidade o rosto esfumou-se sem explicação, como se naquele momento voltasse ao meu sonho da varanda, onde me tentava agarrar com força determinada para não cair, mas onde tudo implicava a minha morte.

Não existe propriamente um porquê de contar este sonho. Foi apenas um pesadelo que se transformou em sonho e, quando acordei, era apenas um aviso de outro pesadelo.

O que quero deixar claro é que quando queremos, libertamo-nos. Colocamos de lado tudo o que nos lembra a outra pessoa, jogamos fora as lembranças, as fotos, quebramos os cds, apagamos as mensagens, o número de telemóvel, vendemos o que nos prende à pessoa sem medo de perder outra coisa qualquer, até mesmo dinheiro. Só quando o conseguirmos fazer, nos estamos verdadeiramente a libertar.

O amor é uma doença e pode tornar-se doentio. Pode mesmo matar-nos o corpo ou matar-nos a alma em vida, impedindo-nos de viver e tentarmos ser felizes, ainda que vivos. Podemos viver tipo zombies ou ter força para avançar para a nossa varanda e tentar fechá-la, mesmo que seja doloroso, mesmo que nos sintamos perder, cair… mesmo que sintamos que isso pode acabar connosco.

Eu tentei durante muito tempo libertar-me e, afinal, foi por uma fé que eu não sabia ter, que me libertei. Mesmo que não sejam crentes, tentem libertar-se como eu me libertei, interiorizando o valor contido na verdade destas palavras. Um dia, libertam-se. Foi assim que me libertei, não sem alguns meses de angústia, terror, desilusão, muito choro e muitas insónias…

Salmo 91

Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do omnipotente descansará.

Direi do Senhor: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei.

Porque ele te livrará do laço do passarinheiro, e da peste perniciosa. Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas estarás seguro: a sua verdade é escudo e broquel.

Não temerás espanto nocturno, nem seta que voe de dia.

Nem peste que ande na escuridão, nem mortandade que assole ao meio dia.

Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas tu não serás atingido.

Somente com os teus olhos olharás, e verás a recompensa dos ímpios.

Porque Tu, ó Senhor, és o meu refúgio.

O altíssimo é a tua habitação.

Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda. Porque aos seus anjos dará ordens a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos.

Eles te sustentarão nas suas mãos, para que não tropeces com o teu pé em pedra. Pisarás o leão e o áspide; calcarás aos pés o filho do leão e a serpente.

Pois que tão encarecidamente me amou, também eu o livrarei; pô-lo-ei num alto retiro, porque conheceu o meu nome.

Ele me invocará, e eu lhe responderei; estarei com ele na angústia, livrá-lo-ei e o glorificarei.

Dar-lhe-ei abundância de dias, e lhe mostrarei a minha salvação.

Foi assim que me libertei. E um dia acordei e pude apreciar de novo o sol nascer, vermelho e poderoso, desmaiando nas suas cores enquanto eu inspirava a beleza fresca da aurora ilustrada pela geada do nascer de um novo dia, continuando a fazê-lo dia após dia. O ar fresco, livre, puro, sereno e pacífico da libertação.
Apercebi-me desta forma que independentemente de quem nos fez mal, quando nos libertamos, renascemos de novo, mais bonitos, mais livres, mais brilhantes, mais nós mesmos (pois encontrámo-nos de novo!).
É uma longa e árdua batalha, não sem alguns tropeções de dor… em especial quando vemos pessoas lindas, puras de sentimentos e fortes, a tentar libertar-se… julgando nós que se libertaram e depois… nada. Isso realmente dói. Dói muito. Mas não os podemos libertar pois não acreditariam em nós, nas nossas palavras. Têm de querer libertar-se. Têm de o fazer sozinhos.
Rasga em nós como se uma lança venenosa subisse dos infernos só para nos queimar a única parte do coração que já se recuperou. Pesa como se dissesse, malicioso e baixinho “é esta a pessoa certa para ti. Ou seria, se fosse livre. Ou seria caso se tivessem encontrado noutra altura. Ou seria se fosse mais forte que aquilo que sentiu por quem a magoou. Ou seria se fosses tu mais forte e conseguisses travar as suas batalhas…”
E é nessas alturas que nos sentimos impotentes. Primeiro com uma grande raiva e um grande sentido de injustiça. Depois com pena de nós. Posto isto, com um grave amargo trago de fel pelo coração quebrado, pela alma ferida…
Depois… Bem, depois pesa simplesmente porque não conseguimos ajudar, porque dói cá dentro pelas promessas feitas, pelas coincidências de personalidade, atitudes e pensamentos (quando NA REALIDADE NÃO EXISTEM MESMO É COINCIDÊNCIAS!). E depois fecho o meu coração, sabendo com toda a certeza que se for a pessoa certa, que se tiver sentido o bocadinho em que a amei, um dia voltará. Livre. Só assim será possível.
Fecho o meu coração e espero que a mensagem não seja em vão. Como eu um dia escrevi “se te amei um dia, se sentiste a força do bocadinho de amor que te dei, um dia voltarás para mim e não desistirás pelo meu coração fechado, lutando para teres o que é teu. Se não voltares, então é porque não eras tu a pessoa certa para mim.
Meu querido, quem tiver a chave do teu coração, que conduza o teu barco, mas não a dês a qualquer pessoa, pois não é qualquer pessoa que é digna do teu amor. Viaja, apaga a dor, encontra-te! LIBERTA-TE! Nunca acredites que és impossível de ser amado. Eu amei-te. Breves segundos. Aqueles que me foram permitidos. Se podia ser de outra forma? Não sei. Mas nessa parte mandas tu. Não eu”

E lá fora o tempo passa, o cuco canta, os gatos espreguiçam-se, sonhadores, ao sol, o galo faz valer o seu poleiro… e à tardinha as ovelhas voltam do prado chocalhando harmoniosamente, recordando-nos os nossos sonhos de criança, criando em nós força para querermos amar e ser amados… como de facto merecemos.

E, nesse momento, quando o lusco-fusco toma conta do universo e nos esforçarmos por ir mais longe e vencer a dor que nos mata cá dentro… Nesse exacto momento seremos capazes de nos erguermos mais alto e vermos além das nuvens negras e da mais profunda escuridão. Nesse exacto minuto conseguiremos ver claro e estender a mão para apanhar um pouco da luz que nos toca por segundos e que poderá tocar para toda a eternidade, assim o desejemos, assim lutemos por isso.
O Amor pertence aos determinados e persistentes. E, com a inexistência de coincidência, para quê mais fugir da felicidade quando até o próprio silêncio grita mensagens, quando até a própria distância se encurta na flor de uma escolha?

Esperando que esta mensagem chegue onde merece, onde deve, tocando uma pessoa em especial, mas muitas outras que se encontram na mesma situação, é com muito amor (de coração partido, claro está) e com muito carinho que me despeço, sem estar arrependida de me ter permitido amar quem amei, quando amei e ainda quando o fiz por poucos segundos na estrada desta vida que nos conduz à eternidade.

A vida espreita lá fora. E onde está o nosso coração, estarão também todos os nossos sonhos. J O amor não se mede pela distância ou pelos breves minutos em que o vivemos, mas sim pelas atitudes e pela intensidade com que foi vivido. Só esse vale a pena. Só esse é puro. Único, transparente e, de facto, inigualável. Agora. Para sempre. Por todo o sempre. Até à eternidade!

Iva*



“It will be all right, you said, tomorrow…

 When you wake up, I will still be here. When you wake up, we’ll battle all your fears…”




Just a little more time was all we needed…

Goodbye...



1 comentário:

Anónimo disse...

Acho que é um crime que tenhas deixado de escrever.

Adoro ler os teus textos..
Deverias pensar em continuar a escrever aqui ou em fazer um novo blog.
Fico à espera ;)

Nuno